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Matando as saudades

"Várias semanas haviam se passado desde nosso último encontro. 
A saudade me corroía imensamente, e eu pensava que nao tornaria a vê-lo. Chegara a pensar que ele fora apenas uma miragem em meu caminho, e que se dissipara no horizonte. pensava que ele se esquecera de mim, afinal, tantas semanas haviam se passado... 
E a dor me acompanhava, tal como uma amiga indesejada, trazendo tristeza e lágrimas. Da saudade vinha a dor, da dor vinha a tristeza, da tristeza vinha as lágrimas e das lágrimas vinha o desespero. Desespero de nunca mais tornar a ver a razão dos sorrisos mais sinceros e gostoso, do sol da minha vida, do amor que Deus me trouxera. Mas o tempo é o senhor da razão. E Deus é o Senhor das causas primárias. Ele sabe o que faz e porque faz. 
Então, eis que, em uma tarde nublada e fria, nos reencontramos. Despretenciosa e alegremente eu ficara perto dele. Quando nossos olhares se cruzaram, um fogo me queimou por dentro, tal como um vulcão pronto para entrar em erupção. A dor que oprimia meu peito havia desaparecida, e com ela toda a tristeza que me acompanhava. 
E, pra minha surpresa, ele também parecia saudoso! O enorme sorriso estampado em seu rosto dizia alguma coisa. De alguma forma ele gostava da minha presença. Eu só sei que minha vontade era de segurá-lo forte junto a mim e beijá-lo muito, e intensamente... já não podia mais esperar um minuto sequer. E ele também não queria mais esperar. Mais tarde, a sós, ele e eu, homem e mulher, dois amantes que se queriam, se desejavam, se buscavam, nos entregamos à paixão que sufocava nossos corações. Boca a boca, língua a lingua, mãos percorrendo os corpos... desejo correndo solto. 
Um pulo no motel e enfim pudemos matar todo o desejo que acabava conosco. Estando ele dentro de mim eu sabia que o amaria para sempre. Afinal de contas, em meu coração ele já habitava há muito tempo, e ao me tornar sua mulher na cama, ele deixou sua marca em mim... uma marca que seria impossível de ser retirada, pois o amor, quando vem pra ficar, é para sempre!"

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Chuva de amor

"Deitados na cama, respiração ainda ofegante, pernas entrelaçadas (tal como ficavam nossos dedinhos no início do nosso romance, quando a sementinha havia apenas sido plantada)... nossas mãos unidas, como se jamais quiséssemos nos separar, vivendo o momento do pós-orgasmo, naquela cama imensa, na noite chuvosa que cobria a cidade. Cobertos apenas por um grosso edredom, tínhamos nossos corpos ainda suados pelo amor, com o cheiro da paixão no ar. 
Dizíamos palavras profundas e verdadeiras, palavras que traduziam o que estávamos vivendo. E era algo forte que jamais nenhum dos dois vivera antes. Ele acariciava meus cabelos com carinho, como tudo o que se referia a mim, sempre com carinho. E sentindo os dedos dele na minha cabeça meu coração repousava sossegado, depois de um trabalho intenso dentro do peito durante o sexo. Meus olhos, mesmo cansados, pois era bem tarde, se recusavam a fechar. Afinal de contas, não era todos os dias em que estávamos juntos, e quando longe um do outro, a saudade doía, machucava, feria. Não havia alegria, não havia luz, tudo era sombrio, triste, sem cor... E quando juntos estávamos, tudo era felicidade, tudo era muito mais bonito, tudo havia sabor e razão. Quando juntos estávamos, o amor estava presente. Enquanto ele acariciava meus cabelos, eu falava dos meus sentimentos, de como era maravilhoso estar com ele, de como ele me fazia sorrir, me fazia feliz. Que estar com ele era o verdadeiro sentido da felicidade; na verdade, ele era a própria felicidade disfarçada de homem (e que homem!). Ele sorria feliz porque sabia que eu era verdadeira com ele, e perto de mim ele era só felicidade. 
Era como se minha presença fosse o suficiente para que ele fosse feliz para sempre. Nós dois, desde o primeiro momento, fôramos como lua e estrela, que precisava uma da outra para clarear, para embelezar. 
E desde que tivéramos intimidade, a coisa só aumentou, a cumplicidade tornar-se mais forte, o carinho expandiu-se imensamente. Sim, eu o fazia feliz, ele me dizia a todo instante. E ele a mim, sem nenhuma dúvida a ficar no ar. Juntos, não fazíamos sexo; fazíamos amor, fazíamos paixão, fazíamos desejo... fazíamos chover estrelas no nosso quarto, fazíamos o mar transbordar de amor na praia. 
 Depois de falar mais sobre meus sentimentos, abrir meu coração, ele tocou meu rosto e nos beijamos. Envolvi-o em meus braços e ele ficou por cima novamente, onde mais uma vez nos amamos naquele quarto, naquela enorme cama, naquela noite chuvosa... fazendo as doces consequências do amor.."

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Desejo de amar

"Ele segurou minha nuca por debaixo dos meus cabelos e me beijou de maneira intensa, molhada, onde as línguas se procuravam e os lábios se grudavam. Depois de um tempo afastados, a paixão viera com força total, explodindo em toda a sua carga, que deixara os corações doloridos pela saudade e pela distância. Naquele quarto de hotel, à meia luz, roupas ao chão, o casal, sedento de amor e de vontade, iniciava sua noite de amor. Eu mal conseguia respirar de tanta ansiedade, de tanta necessidade de tê-lo em meus braços. Ele me mostrava a mesma vontade, o mesmo desejo, com uma excitação fora do normal, tamanha a loucura e sede de estar em mim. E ele ficou... a noite toda... e ficaria por todo o sempre...

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Nosso caso secreto

"Eu estava com o coração desassossegado, a ponto de perdê-lo e tinha que fazer alguma coisa. Não poderia deixar parti-lo sem que ao menos um beijo de amor eu lhe desse. Mandei um torpedo e ele me respondeu. Marcamos e nos encontramos na praia. Era noite e com o vento o local estava meio deserto. Bom pra nós. 
Nos beijamos e eu o abracei apertado. Ele gostava dos meus abraços, sabia que havia muita ternura e amor vindos de mim. Então, agarrada a ele, desabei e chorei. Chorei muito. A dor era imensa, e minhas lágrimas, mais uma vez, o sensibilizaram. Como havia sido na segunda vez em que nos encontráramos. Eu era o coraçãozinho de manteiga dele, e ele, com seu imenso carinho especial, me protegia. A maneira como ele me tratava era diferente dos demais, e muitos notavam isso. Mas ninguém sequer imaginava o que havia por trás desse carinho especial, desse chamego entre nós dois. E assim, escondidos, éramos um só, tal como o eclipse da lua, e podíamos nos amar sem que ninguém desconfiasse. Porque no momento não era viável que nosso caso viesse à tona. 
Ele secou minhas lágrimas com seus dedinhos que me levavam ao céu quando se entrelaçavam nos meus e me deu um gostoso beijo. Molhado, suave e bem devagar, sem pressa. Eu estava desesperada, mas ele tratou de me tranquilizar, dizendo que tudo ficaria bem e que eu deveria confiar nele. Em seguida, me abraçou novamente e mais uma vez nos beijamos. Sussurrou algo em meu ouvido e saímos dali, para tirar as mágoas do peito em outro lugar..."

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Uma surpresa romântica

Estávamos casados há quase um ano e levávamos uma vida muito feliz. Ele era um excelente marido, carinhoso e muito amoroso. Vivia me enchendo de carinho, beijos e até de presentes, mesmo fora de datas especiais. Aliás, todos os dias eram o Dia dos Namorados para nós. Sempre com carinhos e palavras de amor, juras que fizéramos no altar e até mesmo durante o namoro. Do namoro ao casamento levamos um ano, e do casamento à gravidez do primeiro filho levou apenas seis meses. Eu já estava com três meses de gestação e, magra como eu era,  a barriguinha já despontava charmosamente. A criança fora desejada e planejada. Quando ela foi gerada, eu estava no período fértil e sabíamos que uma gota de esperma seria o suficiente para haver a reprodução.
Era noite de chuva, só nós dois no quarto, na enorme cama de casal, ao som de trovoadas e chuva forte caindo nas ruas. E eis que houve chuva interna. Inundação, para ser mais exata. E assim, a gravidez foi mais que consumida, e ali começávamos a construir nossa família. Da concepção à confirmação passou-se apenas 15 dias. Ele mal continha a emoção, afinal, ser pai era uma coisa que ele gostava muito de ser. E ele chorou quando lhe contei que esperava um menino. Parece quer todo homem tem o desejo, ainda que interno, de ter um filho homem. Talvez pela continuidade do nome, talvez para poder lhe ensinar coisas que somente homens sabem fazer, talvez para orientá-lo melhor. De qualquer forma, ele me beijou e beijou muito a minha barriga, acariciando-a em seguida. Ligou para o pai, os irmãos, contando a notícia, e depois saímos para comemorar. O período dos enjôos fortes já havia passado, então eu poderia comer melhor novamente - havia sofrido terrivelmente nos primeiros dois meses, a ponto de emagrecer alguns quilos que, naquele momento, não deveria ter perdido. 
Ele estava mais feliz, mais sorridente, e todos podiam notar isto. Seu rendimento no trabalho multiplicara, ele fazia tudo com mais alegria. Certa noite, ele me fizera uma surpresa: por telefone pedira que eu me arrumasse que ele chegaria em casa e sairíamos. Não entendi, mas fiz o que ele pediu. Coloquei uma blusa azul royal e uma saia preta, que não apertava tanto a barriga. Um salto, maquiagem básica e tudo pronto. Ele chegou em casa, tomou um banho, caprichou na vestimenta - como um homem vaidoso que era - e fomos. Era um show do Roberto Carlos em uma casa de espetáculos na Barra. Fiquei muito feliz, pois era um cantor cujas músicas eu amava muito - e uma delas era a NOSSA música. E quando ela veio, nos abraçamos e nos beijamos. Muito. Muito. Eu sorria sabendo que aquela era a música que embalava o nosso amor. Ele sorria porque sabia, "Esse cara sou eu"...

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Loucuras no resort

Havíamos sido apresentados, e a atração foi imediata. De ambas as partes. Da parte dele percebi pelo sorriso de quem parecia ter levado a mega sena. Da minha... um calor que invadira meu corpo e arrepiara a minha espinha. Eu e minha amiga estávamos vestidas com roupas de banho, estávamos nos dirigindo para a piscina. Ele não podia ir naquele momento, mas prometeu dar uma passada por lá. Sorrimos olhando nos olhos um do outro e nos afastamos. 
Fomos para a área da piscina, que era enorme. Havia poucas pessoas, a maioria estava na praia, que ficava bem em frente ao lugar onde estávamos hospedadas. Nos divertíamos à vera, estava um dia quente e podíamos exibir nossos corpos sem o menor pudor, contagiadas pela alegria e beleza do lugar. A água geladinha da piscina refrescava não somente meu corpo mas também minha alma. Precisava daquilo. Calor me incomodava ao extremo. Levei um susto ao vê-lo por ali também, embora ele estivesse ali por outros motivos. Mas ele me viu. E nossos olhos se encontraram. Ele ainda tentou disfarçar, já que não estava acompanhado, mas percebi que ele estava querendo alguma coisa. Minha amiga morria de rir, me deixando ainda mais tímida. E a troca de olhares continuou. Intensa. Quente. Cheia de intenções. Eu quase que engolia a água da piscina tentando me esconder dele, mas ele parecia me seguir com aqueles olhos piscando fogo. Depois de se exercitar, ele se aproximou e, sorrindo, veio falar ao pé do ouvido. Me arrepiei na mesma hora, e se não estivesse na água teria molhado a calcinha. E molhei, literalmente. Entre conversas e risadas, o beijo rolou. 
Ali mesmo, com várias pessoas de testemunha, inclusive minha amiga, que sorria satisfeita. Fiquei com vergonha ao ouvir risadinhas de quem estava vendo a cena. Ele não se importou, e me beijou mais uma vez. Um beijo longo, molhado (literalmente) e cheio de desejo. Conversamos mais um pouco, rimos e prometemos nos ver mais tarde. À noite, minha amiga e eu descemos para jantar no restaurante. Eu não percebi que nossa mesa ficava bem perto da dele, questão de metros. Ele me viu e sorriu. Fiquei tímida, até porque ele não estava só e as outras pessoas estavam rindo da situação. Continuamos a conversar, até que um garçom apareceu com um guardanapo dobrado. Fiquei curiosa, e li com um sorrisinho nos lábios. Olhei para ele, que me olhava ardentemente, tal como seu sorriso. Peguei outro guardanapo e escrevi a resposta do que ele queria saber. Chamei outro garçom e pedi que o entregasse. 
Ele deu uma risadinha de contente e me olhou mais uma vez. Após o jantar, nos encontramos em um corredor vazio, onde nos beijamos mais uma vez. Após um pequeno tempo, cada um foi para o seu quarto. Entrei no meu e fui logo retirando meu vestido preto, estava muito quente o quarto. Liguei o ventilador e, só de calcinha e sutiã, me estiquei na cama. Foi quando alguém bateu na porta. Ao abrir, dei de cara com aquele homem sensual na minha frente. Ele sorriu e entrou. A porta foi trancada...

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Dói


Dói amar sem esperanças...
Dói saber que você e eu jamais seremos “nós”
Dói ver outras ao seu redor e eu nada poder fazer
Dói ver em seus olhos a vontade de um colo,
Eu tendo para lhe ofertar e não poder lhe dar
Dói ver que sou fraca para não lutar por você
Mas dói ainda mais saber que eu jamais teria qualquer chance...
Dói estar ao longe enquanto meu desejo era estar bem perto
Dói te querer e saber que os obstáculos são muitos
Dói sonhar tanto com você e acordar sozinha...
Dói sentir meu coração morrer aos poucos todos os dias
E somente lamentar por ele ser tão frágil assim
Dói saber que ninguém te quer como eu
Dói ouvir quando alguém diz “é namorada dele”
Dói... dói muito tudo isso o que eu disse
E você nunca saberá do meu sofrimento,
Nunca saberá do meu amor
Nunca saberá que meu coração chora por você
Que eu me afogo em lágrimas pensando em você
Que cada vez que eu te imagino com outra me desfaleço em dor
Que cada vez que te vejo com alguém é como se
uma cratera se abrisse a meus pés
Me perdoe, meu querido...
Perdoe por eu ser assim
Frágil, sonhadora, ingênua, sensível...
Me perdoe...
É só amor...


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Um segredo de amor – parte 2



Nem sei com cheguei em casa. Estava sob o impacto da notícia, parecia atordoada, desorientada. Aquele resultado positivo mexera comigo profundamente, trazendo à tona as dores que minha alma estava sentindo naquele momento de solidão. Dor da rejeição, dor do abandono, dor do fim... Tudo o que eu queria naquele momento era recostar minha cabeça no ombro do meu homem e ali descansar por horas, tendo suas mãos acariciando meus cabelos, fazendo-me esquecer de tudo e adormecer como nos contos de fada. Mas não havia contos de fada, não havia suas mãos a me acariciar, não havia mais amor ao meu redor. Não havia mais os beijos molhados e cheios de desejos que sempre marcaram o nosso romance. 
Mas agora eu estava sozinha, com uma criança em meu ventre, e deveria seguir meu caminho sem o homem que eu tanto amava. Eu desejava que aquilo fosse um pesadelo e que, quando eu despertasse no dia seguinte, ele estivesse batendo em minha porta pedindo para voltar, dizendo que tudo havia sido um grande equívoco de sua parte. Eu olhei para a enorme sala de meu apartamento e vi apenas um grande vazio no local onde, tantas e tantas vezes, nós fôramos um só, corpos grudados, pernas entrelaçadas, beijos, carícias... Ele era um homem desejado, e quando saíamos juntos eu via olhares gulosos de outras mulheres pra cima dele. Não gostava muito, porém não ficava com ciúme, pois quem estava com ele era eu. Mas agora ele poderia dar corda a todas que lhe abrissem o sorriso com claras segundas intenções. E eu não poderia fazer nada, a não ser ver com tristeza, à distância, mesmo com o ciúme corroendo por dentro. 
O que restara dele para mim estava em meu ventre, uma vida que já habitava em mim há algumas semanas, e que em breve começaria a despontar em minha barriga. Naquele momento de tristeza, triste e decepcionada, eu estava decidida a não contar a ele sobre a criança. Ele poderia ter filhos com quem quisesse, poderia fazer de sua vida o que bem entendesse, mas meu filho seria só meu. Era egoísmo meu da minha parte pensar assim, mas naquele momento estava tomada de dor e tristeza no coração. Pensava que, por ter tudo e qualquer uma a hora que quisesse, não precisaria da criança em minha barriga. Porém, mas mesma hora em que pensava assim, que tinha vontade de xingá-lo, de estapeá-lo, o amor falava mais alto e aí eu me esquecia dos tormentos e desejava tê-lo em meus braços novamente. 
Tentando me esquecer de tudo aquilo, resolvi tomar um banho morno. Fui ao quarto e em seguida me dirigi ao banheiro, largando as peças de roupa pelo chão. Enquanto me ensaboava, me recordava dos momentos que vivi ao lado dele, das palavras doces e quentes, das noites de amor... e pensando naquilo, passei as mãos delicadamente em minha barriga reta e sem qualquer sinal ainda de gestação visível. Ali dentro havia um pedaço dele, um serzinho que logo começaria a crescer e viria ao mundo para me tirar da solidão. Nada fora por acaso, tudo tivera um propósito, foi o que pensei. Saí do banho e fui direto para a cama. Caí de exausta, e dormi por horas a fio. Quando despertei já era fim da tarde. O telefone tocara várias vezes, mas eu, em estado de sono profundo, não ouvira nada. Soube depois, por uma amiga que ligara tentando falar comigo. Abri os olhos sentindo como se tivesse dormido por cem anos. Meus olhos pareciam preguiçosos, não querer voltar a ver a vida real em que me encontrava. Mas apesar da preguiça, conseguira dormir bem, estava mais disposta. 
Naquele momento, pensava em falar com alguém, não desejava ficar com toda aquela dor guardada no peito. Já não podia ficar guardando sentimentos que me fizessem mal, agora havia mais uma pessoa para dar todo o meu amor, e ela não podia receber más vibrações que viessem de meu coração. Mas eis que recebi o telefonema de uma amiga que andava sumida. Não por não gostar mais de mim, mas porque a vida dela era tão atribulada quanto a minha. Mas ela sabia do meu romance com ele, afinal, era uma das amigas em comum e havia nos apresentado. Senti a voz dessa minha amiga tão serena, mas um tanto quanto entusiasmada. Estava feliz com alguma coisa, era nítido. Naquele momento, éramos a ponta das extremidades: ela feliz da vida e eu triste de morrer. Enquanto falávamos pelo telefone, ela percebia minha voz mudada, embargada, chorosa. Disfarcei dizendo que estava gripada, mas, esperta do jeito que era, minha amiga não acreditou e pediu que eu contasse o que estava havendo. Não quis falar por telefone, então marcamos um encontro naquela tarde mesmo. 
Ela me convidou para ir até sua casa, o que aceitei prontamente, pois adorava estar com ela, e sua casa era acolhedora. Enquanto dirigia meu carro até o bairro dela, procurei não pensar em meu problema para não causar nenhum acidente. Sempre fora uma motorista muito consciente, e gostava de dar exemplo. Até porque eu teria alguém a quem dar exemplo, por isso eu deveria ser ainda mais atenta, ainda mais ao anoitecer que, na Cidade Maravilhosa, costumava virar um caos no fim da tarde. Ela me recebeu com muito carinho, como de costume, e alegria nos lábios e nos olhos. Logo senti que pairava felicidade no ar. Naquele momento eu estava tranquila, serena, de coração aberto para ouvir as confissões da minha amiga. O que me importava era saber de sua felicidade. Se tivesse algum tempo, contaria do meu sofrimento. Ela me contou de seu romance, como estava feliz, como a vida estava sendo maravilhosa para ela. Eu ouvi tudo atentamente, mas no fundo desejava ter um romance feliz para mim também. Não era inveja, era apenas a carência batendo forte no peito. Ela ia me falando dos momentos maravilhosos que estava passando ao lado de seu novo amor, mas ela ia percebendo que enquanto falava, lágrimas brotavam de meus olhos. De tanto insistir na pergunta sobre o que se passava comigo, acabei me abrindo. Aí não aguentei a dor e desabei em pranto. Minha amiga me abraçou carinhosamente e quis saber a verdade. Então lhe contei tudo, não escondi nada.
Ela não entendeu o porquê da atitude dele, mas me prometeu que conversaria com ele. Pedi que não, que as coisas já estavam se encaminhando, mas ela insistiu no assunto, ainda mais sabendo da criança que já era uma realidade. Ficamos conversando por mais um tempo até eu ir embora. Ela queria que eu dormisse em sua casa, mas como não estava preparada, sem roupas extras nem nada, preferi ir embora. Já estava tarde e as ruas já estavam mais calmas, porém, ficavam suscetíveis a ação de delinquentes. Mal cheguei em casa, caí no sofá e adormeci. Nos dias que se passaram não tive notícias dessa minha amiga, pensei até que ela estivesse viajando. Meu celular eu deixei desligado por alguns dias, para evitar que me ligassem. Eu não queria receber qualquer ligação dele, caso ela tivesse lhe contado sobre o bebê. Sim, eu o amava, e muito, porém estava com o coração partido, ferido, magoado. Minha tristeza era quase do tamanho do meu amor por ele. 
As festas de fim de ano se aproximavam e eu estava com ideia de viajar, até para ficar longe de tudo o que estava me deixando triste. Ainda mais depois que eu o vi acompanhado em algumas vezes, sempre com a mesma mulher, que era bonita, por sinal. E aquilo acabou comigo. Embora minha amiga, que o conhecia, me dissesse que não fosse nada de sério, vê-lo com outra era um atestado da minha incompetência como mulher, como amante... como alguém que estava amando, porém seu amor era insuficiente para segurar o homem amado. Os enjôos sentidos já nem eram tão terríveis quanto a minha solidão interna, a minha carência afetiva. Sentia-me a pior pessoa do mundo, a mais desgostosa, a mais inútil, que não conseguia manter um amor. E enquanto eu me sentia assim, minha barriguinha ia crescendo, mostrando a mim que ali havia uma vida que crescia e queria que eu doasse mais de mim, ao invés de gastar minhas lágrimas com outra pessoa. 
Tratei de cuidar de mim e ficar bonita para meu filho, afinal, ele seria minha única companhia para a vida inteira, como eu imaginava. Meu corpo exibia uma silhueta linda, curvas acentuadas e uma barriguinha que despontava de forma charmosa e sexy. Minha pela até parecia melhor, mais sedosa e macia. Os desejos sexuais continuavam em alta, aflorados, mas agora não tinha com quem satisfazê-los. Minha amiga cumpriu sua palavra de não contar nada a ele sobre o bebê quando o encontrou, apesar da enorme vontade. Ela atendeu ao meu pedido. Porém, a vida sempre dá um jeito de nos passar a perna, ou pelo menos mudar os rumos dos nossos planos. No início de dezembro, em pleno entardecer, eu passeava no calçadão usando uma roupa justa, deixando à mostra minha barriga de quatro meses. Estava sozinha, com meu mp3, ouvindo minhas músicas para relaxar. Estava distraída, porém, ao ver aquele homem conversando com um amigo no calçadão, imediatamente fiquei em alerta, com o coração na boca. Como estava a uma certa distância dele, fiquei extática, observando a expressão dele, que era séria. Estava sem mulher nenhuma ao lado, apenas ele e um amigo. Não sabia se estava ou não sozinho, mas àquela altura do campeonato eu já não me importava mais. Agora havia uma pessoinha a quem dedicar todo o meu amor, carinho e atenção. Apesar de ainda o querer muito, sonhar com ele, sentir saudades e chorar de emoção ao ouvir uma doce canção. E ao revê-lo depois de três meses apenas pude comprovar o quanto eu não o havia esquecido, o quanto eu o queria... 
Após os segundos de êxtase observando-o, tratei de apressar o passo, afinal, estávamos na mesma calçada, e eu queria evitar que ele me visse. Só que não consegui. Ao começar a andar, ele olhou na minha direção, como se soubesse que eu estava ali. Nossos olhos se encontraram e eu tive vontade de chorar. Vi que ele desceu os olhos na direção da minha barriga, e voltou a me olhar, com uma expressão de surpresa e espanto. Como se ele acreditasse ser o pai, mas que não imaginava que aquilo pudesse ter acontecido. E como ele não disfarçou, o amigo dele acabou olhando também, e sei que ele comentou alguma coisa assim que eu passei. Foi um momento constrangedor para mim. Nos dias que se seguiram, meu celular tocou algumas vezes, mas não atendi. Somente quando foi chamada da minha amiga, identificada. 
Ela queria falar comigo, e eu não desconfiei de nada. Marcamos de nos encontrar e assim foi. Ela me disse que ele havia ligado para ela falando que havia me visto e queria saber sobre a minha gravidez, se era dele, enfim. Fiquei incomodada com aquele assunto, estava decidida a virar a página, e agora que estava seguindo o meu caminho, ele queria saber, não de mim, mas da criança que eu carregava e que, sim, era dele, mas se dependesse de mim, nunca iria saber a verdade. Minha amiga gostava muito de mim, mas entendia que minha revolta tinha passado do ponto, pois se ele a procurara era porque se interessava. E me perguntou se eu ainda o amava. Meu coração deu um soco no meu peito, tão forte aquela pergunta me atingira. Confirmei sem titubear, e ela me disse que eu devia, em nome desse amor, esquecer o que se passara e falar sobre o bebê com ele. Engolir o orgulho seria uma tarefa pra lá de difícil pra mim, mas sabendo que meu filho precisava de um coração vazio de sentimentos negativos e inteiro só pra ele, assenti. Mas ela que falasse com ele, eu não me moveria. Ela concordou.
Mais alguns dias se passaram e nós duas nos encontramos em um restaurante. Apesar de ali não ser o local mais apropriado para um DR, foi onde nos reencontramos após três meses e com muitas mudanças no ar. Eu e minha amiga estávamos sentadas em um canto mais reservado do restaurante, até para ninguém ficar prestando atenção em nossa conversa. Ao ouvir a voz dele dizendo “oi”, meu coração palpitou freneticamente, e minha vontade foi de agarrá-lo ali mesmo, na frente de todos. Nos olhamos e vi muita ternura naqueles olhos que arrebataram o meu coração. Disfarcei o máximo que pude para não deixar uma lágrima rolar em meu rosto. Teria que tirar forças jamais imaginadas de dentro de mim para que ele visse que eu estava sobrevivendo sem ele. Ele sentou-se de frente para mim, e minha amiga saiu para nos deixar a sós. 
A primeira coisa que perguntou foi sobre o bebê, e eu demorei alguns instantes para dizer a verdade, após um longo suspiro. Os olhos dele, surpreendentemente, marejaram. Em seguida, ele sorriu. Mas eu estava na defensiva, desconfiada, ainda me recordando da última vez em que nos víramos. Entre explicações e argumentos, ficamos por cerca de quase duas horas conversando. Nesse tempo, chorei, ele também se emocionou, ainda mais quando tocou minha barriga e sentiu o bebê mexer. Aí, chorou e me pediu perdão. Eu disse que não tinha o que ser perdoado, que estava tudo bem e que eu estava seguindo o meu caminho. Para ficarmos mais à vontade, ele me levou para a praia, que estava vazia devido ao mau tempo. Minha amiga, aliás, nossa amiga, nos seguiu um pouco mais afastada. Foi estando em pé que ele notou quão bonita estava a minha barriga, pontudinha e já à mostra. Diante dos apelos dele, do choro, dos pedidos de volta, eu não resisti e o aceitei de volta. Afinal, quem ama perdoa e faz um novo recomeço ao lado de quem se ama. E agora seríamos em três, o início de uma pequena família, com o amém dos anjos.



The end


 


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Um segredo de amor – parte 1



A chuva caía forte nas ruas da cidade. Já se adentrava a madrugada e em meu apartamento, dois amantes se entregavam ao prazer e ao amor. Dois corpos suados, entrelaçados se descobriam mais uma vez. Gemidos de prazer durante o ato sexual eram a canção que nos embalava, que nos enebriava. Aquele homem por cima de mim, se movimentando intensamente me levava ao céu, embora o paraíso fosse nós dois juntos. Beijos molhados, pernas abertas, movimentos de entra-e-sai, palavras quentes... orgasmos... silêncio profundo. Ele afundou a cabeça em meu pescoço enquanto eu continuava gemendo de prazer, num gozo sem fim. Eu podia sentir seu coração bater no compasso do meu, em um desespero pela felicidade, na necessidade de estar juntos para sempre. Enquanto ele tinha seu prazer dentro de mim, eu olhava para o teto num sorriso largo de pura felicidade. 
Estar com meu homem era ser feliz eternamente, era viver em um conto de fadas real. Era saber que o amor realmente existia e que eu havia sido escolhido para vivenciá-lo. Ele saiu de mim e se deitou ao meu lado na cama. Me acolheu em seus braços e permanecemos por um tempo apenas sentindo a respiração do outro. Felizes, muito felizes, era assim que nós estávamos. Felizes, era assim que ficávamos na companhia um do outro. Não sei se estávamos namorando, mas já fazia um bom tempo que nos encontrávamos, nos tornávamos um só na cama, compartilhávamos bons momentos. Eu desejava ser a namorada dele, mas jamais toquei no assunto para não forçar nada. Nunca desejei ser um problema para ninguém, em toda a minha vida. Jamais. E quando finalmente encontrei um homem que realmente valia a pena, eu procurava ser a melhor mulher, chegar no mais perto da perfeição no que fazia para que ele se sentisse cada vez melhor ao meu lado. Eu tinha uma amiga, uma grande amiga, a quem eu contava um pouco da nossa história. Ela era uma excelente ouvinte, generosa e sempre disposta a me ouvir. Mesmo que ouvisse de mim apenas que “ele havia me dado um beijo”, ela estava ali, paciente e dedicada em sua amizade. E estava feliz pela minha felicidade. Porque amigos de verdade compartilham da nossa amizade. Ela o conhecia também, e gostava muito dele. Quando nós três nos reuníamos, era aquela diversão, a conversa fluía naturalmente e de maneira divertida. O tempo foi passando e eu me via cada vez mais apaixonada. Ele me roubava para si mais a cada dia, e eu já sentia que era mais do que paixão o que estava fazendo meu coração bater forte diariamente. Estava ficando difícil disfarçar que eu o amava, que precisava mais a cada dia de tê-lo comigo, de sentir seu cheiro, seu abraço gostoso, ouvir sua voz grossa e sensual... Não sei se ele percebera que eu havia mudado, mas senti que ele estava mudado. Algo me incomodava por dentro, como se fosse um espinho arranhando, perfurando. O sexo continuava a mesma delícia de sempre, mas fora dele a coisa estava mais fria que o de costume. Os telefonemas começaram a rarear, até que um dia saímos para conversar. Ao nos vermos já senti algo de estranho no ar. Ele não me beijou, tampouco me abraçou, como sempre fazia. Àquela altura meu coração corria mais que carro de fórmula 1. Desesperado, agoniado, sem rumo, a ponto de bater. 
No carro, durante o trajeto, um silêncio barulhento que me incomodava. Eu só conseguia ouvir o choro do meu coração antes que minhas lágrimas começassem a cair. Fomos para um local mais reservado, para que ninguém nos pudesse incomodar. Acomodados, ele começou com um papo muito esquisito sobre não estar preparado para encarar um relacionamento sério de novo, que estava se apegando a mim, mas que naquele momento ele não podia retribuir ao meu sentimento. Nada conseguia compreender o rumo daquele assunto. E ele continuou, dizendo que me queria bem, mas que nós pararíamos ali, sem me dar alguma explicação no mínimo convincente. Aquelas palavras caíram como flechas atingindo meu peito, causando uma dor ardente e intensa, não só no coração mas também na alma. Questionei várias vezes, perguntei se meu amor não era suficiente, se não lhe bastava. 
Ele me olhou surpreso com a revelação, afinal, até desconfiava que eu o queria mais do que demonstrava, porém até então não me atrevera a abrir o coração. Fui no impulso, na cara e na coragem, pois já estava ferida, e falar de meu amor não me causaria mais estragos; pelo contrário, eu precisava tirar aquilo do peito. Eu chorava copiosamente, inconsolável, diante da tragédia sobre a qual minha vida acabara de se abater: a perda do meu grande amor. Diante do meu desespero, ele segurou minhas mãos, dizendo que eu era uma mulher muito especial, que na cama era maravilhosa, que eu era isso e aquilo, mas que naquele momento o certo seria a separação. Empapada de lágrimas, passei as mãos no rosto, me levantei e disse que faria o que ele queria, me afastaria para sempre. Ele ainda tentou a ser menos radical no meu argumento, mas eu disse que estava muito ferida e que o melhor seria que nunca mais nos víssemos. Deixei-o sozinho e segui a pé para casa. Fui andando pelo calçadão aos prantos, soluçando, no desespero de minha alma agoniada, de meu coração apaixonado e tão ferido. Ele queria ficar longe de mim, e assim seria. Do jeito que ele queria, assim seria. Não mais carícias pelo corpo, não mais palavras carinhosas, não mais palavras ardentes ao pé do ouvido durante as transas, não mais noites de calor nos braços um do outro. 
Não mais... nada. Agora, só silêncio e solidão de volta ao apartamento tão grande para uma pessoa só... Chorei por dois dias. Por dois dias não saí de casa nem atendi a telefonemas. Quase não comia, permanecia deitada, chorando e me lamentando. Depois desse processo de luto interno, resolvi desabafar com uma pessoa de confiança. Uma amiga era tudo o que eu precisava naquele momento. Estava mais do que sozinha, estava mergulhada em solidão e dor. Com ela pude chorar, desabafar, expor meus sentimentos, esbravejar... sentir saudade. Com toda a sua paciência e dedicação, ela me confortou e me pediu que confiasse no tempo, pois ele era o senhor da razão. Naquele momento turbulento, não compreendi muito bem o conselho, mas acatei. Tudo o que vinha de coração e com carinho eu estava aceitando. Era como se eu fosse uma mendiga à espera de uma esmola de carinho e atenção. Mas ela dizia que eu merecia muito mais do que simples “esmolas” de carinho e atenção. Eu merecia sentimentos completos, por inteiro. Talvez ele não estivesse pronto para uma relação madura, talvez ele tivesse medo de se apaixonar, ou, na hipótese mais acalentadora, ele não soubesse lidar com o amor que porventura estivesse sentindo. Eu não queria que ela falasse com ele. Já que ele queria assim, assim ficaríamos. Ou melhor dizendo, assim não ficaríamos. Não mais abraços carinhosos, não mais beijos molhados repletos de desejo, não mais sussurros ao pé do ouvido, não mais banhos juntos... não mais amor... Ela tentou argumentar, dizendo que ele deveria saber como eu estava me sentindo. 
Mas eu não queria mais que ele se lembrasse de mim. Queria era que ele me esquecesse de vez, que fosse viver sua vida do jeito que quisesse, com quem quisesse... e me deixasse só com minha solidão e dor. Sim, eu estava ferida mortalmente, como se minha alma tivesse sido rasgada, deixando toda a dor e a tristeza expostas feito feridas. Estava magoada, triste, porque ele fez tudo o que havia dito jamais fazer, jamais se tornar. Naquele momento, minha amiga acatou meu desejo. Porém, o que eu não podia imaginar é que ela era persistente, ou pelo menos, teimosa e não iria desistir de seu intuito, que era nos unir novamente. Iria dar um tempo para que a poeira baixasse um pouco. Em termos. Soube por amigos em comum que ele estava saindo com outra mulher, e que ele parecia muito à vontade com ela. Sofri muito. Chorava a noite inteira, soluçava sem parar. Nos dias que se seguiram à nossa separação, meu mundo parecia ter desabado sobre mim. 
Estava arrasada, sonhava com ele e acordava chorando, sentia muito a ausência dele. Porém, em momento algum liguei para ele. Sempre soube que ele deveria ter seu espaço próprio, afinal, ninguém está preso a ninguém como corrente. Eu só queria que ele fosse feliz, estivesse feliz, com quem quer que fosse, mesmo que isso arrebentasse meu coração, mesmo que eu morresse um pouco a cada dia. Eu só queria vê-lo feliz. Porque eu o amava e sempre amaria. Porque ele era uma parte essencial de mim, mesmo que não quisesse mais estar em mim. Mesmo com o carinho e apoio dos amigos, eu me sentia a última das mulheres, a mais insignificante, a mais solitária. Ele me fazia muita falta, não somente porque era a minha melhor companhia, mas porque, quando ao lado dele, eu era a mulher mais feliz do mundo. Não havia motivo alguma para estar triste estando ele por perto. E agora ele se fora. Porque quisera. Porque queria ser “livre”. E se assim ele queria, assim eu deveria me conformar. Mas a vida tem surpresas que nos pegam desprevenidos. Talvez como um sinal de que um amor pudesse nascer de uma forma ou outra, ou até mesmo renascer, eis que me descobri grávida dele. Nem sei como aquilo podia ter acontecido, mas ao fazer o teste e me deparar com um “positivo”, um turbilhão de emoções passou pela minha cabeça e meu coração. Caí no choro por me sentir sozinha naquele momento tão importante, por saber que eu e ele estivemos juntos para conceber aquela criança e agora só haveria eu e meu bebê... Talvez nunca me sentira tão só quanto naquele momento, em que um pedaço de papel representava minha enorme responsabilidade para uma vida inteira. Significava que dentro de mim uma nova vida crescia e que, a partir daquele instante mágico, eu não era mais apenas eu: agora éramos duas pessoas em um só corpo, dois corações batendo no mesmo compasso. 
Agora eu tinha que me levantar e seguir em frente, mesmo a contragosto, mesmo sentindo as pernas sem forças. Agora eu tinha alguém que iria depender única e exclusivamente de mim. A questão naquele momento seria sobre a quem falar sobre minha gravidez, a quem contar sobre a vinda do bebê. Porque tínhamos alguns amigos em comum, no entanto, muitos o conheciam, e muitos já o tinham visto em meu prédio, seja comigo ou sozinho. E quando minha barriga começasse a aparecer, o burburinho seria inevitável. Ainda mais se eu continuasse circulando sozinha. No mínimo estranhariam a ausência dele ao meu lado. Ainda que eu nunca tivesse dado importância à fofoquinhas e comentários, aquilo iria me perseguir por algum tempo. Fui andando pelo calçadão, no fim de tarde, em busca de nada. O cheiro da maresia invadia minhas narinas e me traziam certa paz de que eu necessitava naquele momento. Agora havia uma nova pessoa na minha vida. E ela seria meu segredo de amor...


(continua)

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